Банкир-анархист и другие рассказы | страница 88
Grato, o Saraiva acedeu e a combinação ficou feita. Sucede, pórem, que, chegado a casa, comegou a meditar no convite, e, desde logo, a desconfiar dele. «Ali há coisa», pensou o Saraiva. E, sozinho, diante do espelho, levou o indicador direito ao olho direito, no gesto baixante da esperteza, «Mas eu sou o Saraiva!», apontou para si mesmo.
E meditou, «Que diabo será a partida?». Não tardou que descobrisse. Tratava-se de encher uma casa qualquer de uma quantidade de meretrizes dispostas com aparência de senhoras e meninas, e de o convidar (a ele Saraiva!) para ir fazer diante délas o papel de recitador. Conclusão lógica, conclusão natural. E o Saraiva tomou mentalmente as suas precauções.
Chegou a noite, e chegou o Saraiva. E, junto com os vários camaradas, foram dar à casa onde estavam reunidas as senhoras todas que os esperavam. Para entrada e deslumbramento, os apresentantes, aberta súbitamente a porta da sala, que se revelou cheia de senhoras, apresentaram, «Minhas senhoras, o sr. Saraiva!», com o ar de quem apresenta um dos homens célebres do mundo.
Então o Saraiva, álacre, deu um pulo para o meio da sala, e braços abertos, gritante e alegre, bradou para as senhoras todas: Eh, putedo!
E depois, voltando-se a rir para os apresentantes lívidos, inclinou a cabeça e levou à eterna pálpebra direita o eterno indicador direito, «Vocês esqueceram-se que eu sou o Saraiva»…
Não ser Saraiva.
Na dúvida ser Saraiva, porque aqui o Saraiva foi o parvo e os outros é que ficaram atrapalhados.
Quando uma nação eré firmemente em si mesma, humilha os outros ainda quando se engana e é ridícula. Coisa por cousa, mais vale ser Saraiva. Porque é preciso não esquecer o resultado prático de tudo isto. As raparigas ficaram insultadas, os rapazes ficaram envergonhados: quem ficou vencedor foi o Saraiva.
Eu, o doutor
Entrei uma tarde numa camisaria de onde gastava, com o fim imaginado de comprar uma gravata. O caixeiro que estava livre de freguês, e que há muito me conhecia, cumprimentou-me alegremente: «Boa tarde, senhor doutor».
«Não sou doutor», disse-lhe, e era a verdade. «Porque é que me julga doutor?»
«Ah, eu realmente julgava…», respondeu ele limpidamente.
Pedi gravatas, escolhi a que preferi, paguei. Nesta altura, o outro caixeiro, que também de há muito me conhecia, veio para ao pé do colega.
«Boa tarde», disse eu para ambos.
Os dois caixeiros inclinaram-se amáveis e sincrónicos, e, como um só, disseram: