Банкир-анархист и другие рассказы | страница 59



que ele não nasce senão para ser ele próprio, e portanto o contrário de altruísta e solidário, e portanto exclusivamente egoísta.

«Eu discutí a situação comigo mesmo. Repara tu, dizia eu para mim, que nascemos pertencentes à espécie humana, e que temos o dever de ser solidários com todos os homens. Mas a ideia de «dever» era natural? De onde é que vinha esta ideia de «dever»? Se esta ideia de dever me obrigava a sacrificar o meu bem-estar, a minha comodidade, o meu instinto de conservação e outros meus instintos naturais, em que divergía a acção dessa ideia da acção de qualquer ficção social, que produz em nós exactamente o mesmo efeito?

«Esta ideia de dever, isto de solidariedade humana, só podia considerar-se natural se trouxesse consigo uma compensação egoísta, porque então, embora em princípio contrariasse o egoísmo natural, se dava a esse egoísmo uma compensação, sempre, no fim de contas, o não contrariara. Sacrificar um prazer, simplesmente sacrificá-lo, não é natural; sacrificar um prazer a outro, é que já está dentro da Natureza: é, entre duas coisas naturais que se não podem ter ambas, escolher uma, o que está bem. Ora que compensação egoísta, ou natural, podia dar-me a dedicação à causa da sociedade livre e da futura felicidade humana? Só a consciência do dever cumprido, do esforço para um fim bom; e nenhuma destas coisas é uma compensado egoísta, nenhuma destas coisas é um prazer em si, mas um prazer, se o é, nascido de uma ficção, como pode ser o prazer de ser ¡mensamente rico, ou o prazer de ter nascido em uma boa posição social.

«Confesso-lhe, meu velho, que me vieram momentos de descrença… Senti-me desleal à minha doutrina, traidor a ela… Mas em breve passei sobre tudo isto. A ideia de justiga cá estava, dentro de mim, pensei eu. Eu sentia-a natural. Eu sentia que havia um dever superior à preocupação só cá do meu destino. E fui para diante na minha intenção.

— Não me parece que essa decisão revelasse uma grande lucidez da sua parte… Você não resolveu a dificuldade… Você foi para diante por um impulso absolutamente sentimental…

— Sem dúvida. Mas o que lhe estou contando agora é a história de como me tornei anarquista, e de como o continuei sendo, e continuo. Vou-lhe expondo lealmente as hesitações e as dificuldades que tive, e como as venci. Concordo que, naquele momento, venci a dificuldade lógica com o sentimento, e não com o raciocinio. Mas você há-de ver que, mais tarde, quando cheguei à plena compreensão da doutrina anarquista, esta dificuldade, até então lógicamente sem resposta, teve a sua solução completa e absoluta.